SÓ O VENTO SABE A RESPOSTA

Há alguns anos atrás li um livro do escritor alemão Johanes Marius Simmel intitulado “Só o vento sabe a resposta”, que, embora dissesse ser uma obra de ficção, poderia bem ter sido baseado em acontecimentos reais. A história conta a descoberta, por um jornalista, de uma grande trama mundial envolvendo as sete pessoas mais ricas do mundo, que do alto de seu poderio financeiro, manipulavam os preços de quase tudo ao seu bel prazer, conseguindo dessa forma cada um amealhar ainda mais riqueza e poder. Quando descobrem que são descobertos nesse esquema, começam a eliminar quem atravessa o seu caminho, começando por atingir a pessoa do jornalista através do assassinato de sua namorada. O jornalista, ciente do perigo que corre, registra todas as suas descobertas num cartório de uma cidadezinha da França e incumbe um amigo de que, caso lhe aconteça alguma coisa, divulgar na imprensa mundial os documentos.

O jornalista também é assassinado e este amigo vai à procura dos documentos na cidadezinha francesa e descobre que não existe mais documento algum, simplesmente tinham desaparecido, que esses poderosos já tinham dado um jeito de sumir com tudo. Daí o título do livro, de que tudo continuava como antes e que só o vento sabia a resposta.

Vamos voltar aos dias atuais. Hoje (20/11/2008) vejo uma notícia de que o barril de petróleo baixou para 50 dólares em New York, quando, tempos atrás, se os senhores e senhoras bem lembram, beirava a casa dos 140 dólares. Porque será que de uma hora pra outra o petróleo baixou tanto assim de preço? Geralmente, quando a produção aumenta, o preço cai. Mas no caso do petróleo li também que vários países diminuíram a produção, o que contradiz a teoria econômica da oferta e da procura. E esta crise mundial que anda afetando todo mundo, será que está afetando todo mundo mesmo? Ou não será apenas mais uma jogada “dos mais ricos, dos poderosos”?

Que tem gente ganhando com a crise, e muito, isto não resta dúvida. Enquanto isso, nós pobres mortais, alheios aos jogos de interesse dos poderosos, acabamos pagando a conta, com juros mais altos, comida mais cara, desemprego e outras mazelas que nos afetam diariamente.  Não é estranho como de repente o preço de um produto dispara e daí a pouco o preço cai lá embaixo? Ou vice-versa? Já pararam pra pensar nisso? Pois é, nós estamos tão entretidos e atarefados em conseguir levar comida pra casa, em dar um pouco de conforto para nossas famílias (as vezes, com sacrifício) que não paramos pra pensar nessas coisas. E quando pensamos, na maioria das vezes, ficamos com medo de berrar, fazer alguma coisa contra, por medo de acontecer a mesma coisa que aconteceu ao jornalista do livro. E assim vamos levando a nossa vidinha, sem muita esperança, sem grandes perspectivas, sendo engolidos por esse sistema chamado capitalismo, que só valoriza quem tem poder e dinheiro.      E os poderosos faturando milhões, bilhões, a custa da desgraça, promovendo suas guerras, vendendo seus canhões, suas metralhadoras, seus tanques, usando suas drogas e entre um negócio e outro, fazendo seus cruzeiros pelo Caribe, pelo Mediterrâneo e gastando o dinheiro fácil conseguido muitas vezes com o sacrifício de milhares de vidas.

Esse é o mundo em que vivemos e, certamente, assim como no livro, sobre muitas coisas que acontecem, também nunca saberemos a resposta.

ROMANCES DE FICÇÃO DO AUTOR – BRUNO CLAUDIO GARMATZ

O HOMEM DE BARLOVENTO

É uma história de amor ambientada em Goiás, Roraima e Venezuela. Conta a trajetória de Maurício, um advogado de Goiás que passa num concurso pra o Ministério Público Federal e vem trabalhar em Roraima. Durante uma viagem de férias pela Venezuela, junto de um casal de amigos de sua cidade natal, acontece um fato muito estranho e em torno desse fato gira toda a história do romance.  O romance mistura amor, mistério, espiritualidade e descreve regiões da Venezuela que muitos não conhecem.

ESCOLHAS ERRADAS

Conta a história de Ariosvaldo, um jovem ambicioso que sai do interior do Rio Grande do Sul na década de 70 e migra para o Mato Grosso do Sul quando ainda nem era estado. Durante sua bem sucedida trajetória como empresário no novo estado acaba se envolvendo com políticos e corrupção. Mostra como a ambição, alimentada pela ganância e pela falta de princípios morais e éticos, pode levar o indivíduo e a família à destruição, jogando por terra todas as conquistas honestas, fruto de um trabalho árduo pontilhado muitas vezes de sacrifícios e renúncias.

REMANESCENTE DAS SOMBRAS

O romance é baseado num roteiro do filme do mesmo nome, primeiro longa metragem de ficção do cinema roraimense. Conta a história do médico nazista Emerich Hermann, das forças SS de Hitler, que foge para a América do Sul quando termina a Segunda Guerra Mundial e acaba se fixando em Boa Vista, em 1959. Depois de algumas décadas em terras macuxis se torna um empresário poderoso e muito rico, quase sempre através de trabalhos e negócios ilícitos. Isso até agentes secretos de Israel descobrirem seu paradeiro.

 

 

O SAPATEIRO

No mundo em que vivemos hoje, dos descartáveis, há profissões que entraram em decadência, ou simplesmente desapareceram ao longo dos anos. Quem ainda se lembra dos afiadores de facas e tesouras que andavam pelos bairros com seus carrinhos de amolar e batiam de porta em porta atrás de facas, tesouras e alicates de cutículas para afiar? Ou dos entregadores de leite? Dos entregadores de lenha, quando ainda não havia o gás liquefeito? E os sapateiros? Era comum em qualquer cidade, por pequena que fosse, ter uma ou duas sapatarias de conserto. Eles, os sapateiros, faziam de tudo com os sapatos já gastos e surrados pelo uso e pelo tempo. Meia sola, sola inteira, troca de salto, pintura, até confecção de sapatos sob medida.

Hoje é a coisa mais difícil do mundo ainda encontrar essas pequenas oficinas de consertos porque o homem prefere comprar um sapato novo ao invés de consertar o velho. Simplesmente, ao menor defeito ou avaria, descarta-se. Hoje em dia parece que os calçados já vêm com data de vencimento, ao contrário de antigamente quando eram feitos pra durar. E, quando depois de muito uso, o calçado apresentava algum desgaste, levava-se ao sapateiro para consertar e usava-se novamente por um bom período. Existiam verdadeiros mestres na arte de consertar, deixavam o sapato parecendo novo. É raro, mas aqui e ali ainda se encontram reminiscentes dessa profissão.

Na cidadezinha onde estudei na adolescência lembro-me de um desses mestres. Sempre que havia um problema com meus sapatos, lá ia eu pra Sapataria Lauxen.  Esse era o sobrenome do sapateiro e todos na cidade o conheciam por esse nome. Todos os dias eu passava em frente à sapataria a caminho da escola e na volta, não raras vezes, ficava horas conversando e apreciando a arte daquele homem em consertar sapatos velhos. Havia um auxiliar do mestre, aprendiz que era meu amigo e que, mais tarde, junto com um irmão, também abriram uma oficina de consertos. Ficávamos conversando, contando histórias, e eu observando a destreza daquele homem em cortar solas, costurar e pregar tachinhas.

Certa vez até uma bota de cano mandei fazer com o “seu Lauxen” e, se não me engano, paguei em três suadas prestações. Isso foi na década de sessenta. De lá pra cá muita coisa mudou, o mundo se industrializou, se automatizou, apareceram os computadores, o celular, os robôs, as linhas de produção e nos fizeram acreditar que é mais vantajoso comprar o novo do que consertar o velho. Com essa política do descartável, criou-se no mundo todo um grave problema: montanhas de lixo. E o que fazer com tudo isso, principalmente com os eletrônicos descartados. Será que estamos no caminho certo? Será que não chegará o dia que faltará matéria prima? Será que conseguiremos resolver o problema dos lixões? Fica a pergunta. E será que no futuro teremos de volta as sapatarias, oficinas de consertos de sapatos, como as do “seu Lauxen”? Só o tempo dirá.

O PAÍS DO FUTURO

Na edição de nº 2072 de 06 de agosto da revista Veja, aparece uma reportagem bastante interessante com o físico alemão Andreas Schleicher,  que comanda um programa internacional de aferição de estudantes, uma iniciativa da OCDE (organização que reúne os trinta países mais desenvolvidos do mundo), onde ele coloca a questão do porquê dos brasileiros aparecerem nas estatísticas entre os piores estudantes do mundo.

Segundo Schleicher, a questão passa por motivações de orgulho patriótico sem sentido, e cita a China como um exemplo a ser seguido, pois ela não participa desse tipo de pensamento. Os chineses não têm constrangimento em copiar o que funciona em outros países; pelo contrário, são movidos por isso. É uma das razões do extraordinário crescimento alcançado pelo país do oriente nas últimas décadas. Um dos motivos do crescimento é justamente a opção pela educação e a valorização da carreira de professor com incentivos para torná-la atraente, fazendo com isso que alunos brilhantes se interessem por ela.

Países como Finlândia e Coréia do Sul ocupam hoje o topo no ranking das melhores escolas do mundo. E um reflexo disso é o alto grau de desenvolvimento e qualidade de vida desses povos. A Coréia do Sul investe hoje 7% do PIB na educação, enquanto que o Brasil apenas 5%. Professores mal capacitados, métodos arcaicos e ultrapassados de ensino, sistemas velhos e inoperantes fazem com que estejamos na rabeira da educação. Educação leva a desenvolvimento.

Mas vejo também que não é só na questão da educação que não melhoramos. Em muitos setores ocorre a mesma coisa, apesar do governo apregoar um crescimento extraordinário nos últimos anos. Quando eu era menino já ouvia falar que o Brasil era o país do futuro. Pois o futuro chegou e as coisas continuam quase na mesma. Diria até que em alguns aspectos, piores do que no passado. É só dar uma olhada na questão “segurança” e nos índices da violência.

A produção agrícola cresceu muito nas últimas décadas, mas isso não quer dizer que melhorou para o povo. Sempre dizem (os economistas) que quanto mais se produz, mais tendem a baixar os preços. É a lei da oferta e da procura. Mas agora pergunto: o pobre está podendo comprar feijão a R$ 6,00 ou 7,00 o quilo? A carne está acessível ao bolso do trabalhador? Até o nosso pão de cada dia fica cada vez mais difícil de comprar, não é mesmo?

Anos atrás aqui em Roraima a desculpa do não crescimento do estado era a falta de estrada para Manaus. A estrada chegou. Depois diziam que era a falta de energia confiável. A energia chegou. O que falta agora? Não sei dizer, mas certamente alguma coisa está faltando, não só aqui, mas também para o resto do país desenvolver realmente. Eu arriscaria dizer que para o país melhorar e não ficar naquela promessa de ser o “país do futuro”, teria que necessariamente passar por uma “vascinação” ética. Está faltando ética nesse país. Quando bandidos dão ordens e comandam de dentro de presídios, é porque alguma coisa vai mal. Cadê o futuro desse jeito?

O FIM DO MUNDO

Para muitos o fim do mundo está próximo, embasados nos escritos contidos nas sagradas escrituras, segundo as quais os sinais e as turbulências pelos quais o planeta está passando, demonstram isso. Terremotos, vulcões, grandes secas, tsunamis, enchentes, guerras, falsos profetas, violência e todo tipo de catástrofe são indícios de que a vida no planeta está chegando ao fim.

Eu, numa visão particular, sempre achei que o culpado, se realmente o fim estiver próximo, será o próprio homem. As consequências do desrespeito do homem em relação à natureza, ao meio ambiente, e em outros campos das atividades humanas, como na medicina, na educação, na política, na economia, vão levar a destruição do planeta e a si próprio.

Não é precisa ser nenhum gênio para entender certas coisas. Leio num artigo recente que dois dos fatores que poderão levar ao caos são: primeiro, o consumo excessivo pelos países ricos, incluindo aí o desperdício; segundo, o rápido crescimento da população dos países mais pobres. Um dos indicadores de que há desperdício, é o alto índice de obesidade entre a população dos países mais ricos, excetuando-se o Japão. A população desses países ingere muito mais calorias do que as necessárias, enquanto nos países pobres, principalmente na África, crianças morrem diariamente de fome e desnutrição.

Conforme estudos, nações desenvolvidas precisam urgentemente apoiar o acesso universal ao planejamento familiar por parte desses países, senão, por volta do ano 2100 teremos uma população de 22 bilhões de indivíduos, sendo destes, 17 bilhões na África.

E com uma população de tamanha proporção é fácil entender que vai faltar comida. Se hoje, que contamos com uma população mundial em torno de 8 bilhões, já está faltando comida e grande parte da população passa fome, imaginem com 22 bilhões. Será como nos filmes de ficção, onde verdadeiras hordas matarão e saquearão em busca de água e comida.

A água potável é outro grande problema que as gerações do futuro vão enfrentar. Sabemos que a reserva de água boa, própria para se beber, gira em torno de 1% de toda a água do planeta. E mesmo sabendo disso, de que é apenas 1%, o homem não está cuidando desse bem precioso, sem o qual ninguém vive. A poluição, o desperdício, a ganância, a agricultura em larga escala e outros fatores estão cada vez mais reduzindo os estoques de água potável.

O homem precisa deixar de ser tão materialista e se tornar mais espiritualista, deixando de agir conforme a sua própria conveniência, o que conduz o homem no caminho da ambição, criando para si e para os semelhantes, desarmonia e infelicidade.      Eu fico pensando o que é que as crianças daqui a algumas décadas vão ter que enfrentar. Se hoje a coisa tá preta, imaginem daqui a 50 anos. Penso nisso porque tenho uma filha adolescente. Infelizmente, do jeito que a coisa está indo, não vejo boas perspectivas.

 

O FIM DA PICADA

Uma notícia no jornal da TV me chamou a atenção semana passada. Seria hilária, se não fosse até certo ponto espantosa. Acontece que um delinquente foi assaltar uma panificadora em Belo Horizonte e se deu mal. Além de não conseguir consumar o assalto, parece, segundo as notícias do jornal, que ainda levou uns tabefes do proprietário da padaria quando este entrou em luta corporal com ele. O assaltante levou uma pisa e acabou fugindo. Até aí tudo bem, porque entre mortos e feridos, salvaram-se todos. Seria mais uma tentativa de assalto frustrada entre tantas que ocorrem diariamente no país todo, que no máximo viraria um BO (Boletim de Ocorrência) em alguma delegacia de polícia.

O mais espantoso da notícia é que o assaltante voltou com um advogado, querendo processar o dono da padaria por lesões corporais, exigindo uma indenização. Fiquei pensando na ousadia do salafrário, querendo tirar proveito encima da agressão sofrida. E foi justamente encima disso que o advogado do larápio baseou sua defesa, de que ninguém pode fazer justiça pelas próprias mãos.

Já pensaram se um sujeito assim ganha uma ação dessas? Abre precedente para outros salafrários.  Você é assaltado e tem que ficar bem quieto, sem fazer nada, sem reagir, deixar levar tudo o que bem entenderem e ainda, por fim, agradecer ao ladrão por ser assaltado, e quem sabe, convidá-lo para um novo assalto dali a algum tempo, quando tiver se recuperado do prejuízo.

Daí a pouco qualquer ladrãozinho safadinho que não conseguir o seu intento vai querer cobrar indenização, alegando que perdeu horas planejando o assalto, gastou com gasolina e ferramentas pra arrombar a porta, teve que pegar um ônibus ou táxi pra chegar ao local, teve que ficar tantos dias vigiando o local,  e como tempo é dinheiro…

Fico pensando nos legisladores que inventam essas brechas na lei, que enchem os bandidos de direitos. Parece que a intenção é cada vez mais beneficiar o marginal, em vez do sujeito descente, que trabalha, que corre atrás, que busca melhorar a vida através de seu trabalho e esforço pessoal. E fico pensando também no advogado que pega uma causa dessas. Que tipo de cidadão é esse, de que lado ele está? No mínimo, tem uma visão deturpada do que é ético ou não. Estudou cinco anos prá que? Prá ajudar e favorecer bandidos?

Não é a toa que o país está do jeito que está, com a violência correndo solta. O “grande” sempre acha uma brecha na lei para ficar livre. Agora até os “pés-de-chinelo” estão indo atrás dos seus direitos. Os presídios estão sobrecarregados de gente (a maioria pés-de-chinelo), saindo pelo ladrão, como diz o ditado popular. E fala-se em construir cada vez mais presídios, o que, cá entre nós, não resolve o problema, enquanto não se atacar o mal pela raiz, que é pela educação. Pode entrar presidente, sair presidente, mas, enquanto não se investir pesado na educação, a coisa não vai melhorar. Se quisermos ter um país mais descente, com as leis sendo realmente cumpridas, com um povo mais ético, necessariamente o caminho é a educação.

Estamos enveredando por um caminho perigoso, onde a violência aumenta dia-a-dia, onde os cidadãos de bem estão cada vez mais amedrontados e enclausurados, onde o respeito perdeu lugar para a sacanagem, onde impera a lei de Gerson (levar vantagem em tudo), onde a corrupção já é “quase” institucionalizada, onde bandidos comandam de dentro dos presídios e onde damos graças a Deus quando chegamos sãos e salvos todos os dias em casa.

Quando vejo e ouço notícias como a que me referi acima, fico triste. Perco a esperança de ver um país descente, onde quem realmente labuta, trabalha e o faz crescer, sofre em detrimento de espertalhões, malandros e safados, ajudados pela lei que, pelo certo, foi criada para defender quem é correto. Não sei como terminou a história, mas se por acaso o assaltante for beneficiado, podemos dizer, aí sim, que é o fim da picada.

NÃO CONHECEMOS NOSSO PAÍS

Domingo a noite, assistindo a um programa de TV que falava de um acidente de avião ocorrido a quarenta anos atrás,  em Rondônia, notei que a apresentadora duas vezes se referiu ao local do acidente como sendo Roraima e não Rondônia, apesar de na tela mostrar e identificar claramente no mapa a rota percorrida pelo avião acidentado.

É comum vermos esse tipo de gafe cometido pelos grandes meios de comunicação. Jornais, TVs, revistas, vivem cometendo tais erros. Ou é falta de cuidado na hora de editar as matérias trocando as siglas dos estados (RR por RO) ou é burrice mesmo. Estou quase acreditando que seja burrice. Cá entre nós, é inadmissível veicular em rede nacional um erro tão primário. É sinal de quem faz ou escreve a notícia, não tem conhecimento da geografia do seu próprio país. Canso de ver pessoas dando entrevistas falando de Rondônia e citando Boa Vista como capital, ou Porto Velho como sendo capital de Roraima, quando não confundem com Rio Branco, capital do Acre.  Fazem uma miscelânea quando, na verdade, é muito fácil a questão: se você tem dúvidas, pegue um mapa. Mapas são feitos para isso.

Lembro até de uma pequena história que meu grande amigo e querido jornalista Plinio Vicente me contou. Quando estava passando a mini-série Amazônia, que tinha como pano de fundo a história do Acre, um jornalista ligou pra ele de São Paulo para obter informações sobre a região onde se passava a história. Plinio respondeu:

-Mas meu amigo, eu estou em Roraima, aquilo se passa no Acre.

-Mas vc não tá aí pertinho?

-Daqui são quase 3 mil quilômetros até o Acre, – Plinio respondeu. Tem a floresta amazônica inteira para atravessar e o rio Amazonas pra cruzar. Estou em Roraima, Rondônia é que fica perto.

-Eu pensei que fosse perto, o cara respondeu do outro lado da linha.

Sinal de que tinha confundido Rondônia com Roraima.

Em geral o sulista não tem noção de onde fica e como é Roraima. Recentemente estive em Porto Alegre e conversando com um senhor na rua, sobre o clima, ele me dizia com seu sotaque típico:

– Bah, mas como está quente hoje.  Na minha cidadezinha do interior não era quente desse jeito.

Ao que lhe respondi:

-Onde moro é sempre quente, o ano inteiro.

Então ele me perguntou:

_ Mas o senhor mora aonde?

– Em Boa Vista, Roraima, – lhe respondi.

– Ah, ali pra cima de São Paulo, – me respondeu.

Eu só dei uma risadinha amarela e encerrei a conversa.

De outra vez, fiz uma exposição fotográfica no Mato Grosso do Sul e dei uma palestra para uma turma do curso de turismo de uma faculdade, a pedido de uma professora. Passei um pequeno filme de Roraima e depois iniciamos um bate papo. Perguntei aos alunos, se antes de assistirem o filme, eles tinham noção de como era Roraima. A maioria respondeu que achavam que em Roraima só tinha mato, cobra, índio, e jacaré atravessando a estrada. Isso numa turma de universitários do curso de turismo.  Ficaram impressionados com as paisagens de Roraima, das fotos da cidade, das montanhas do norte do estado.

Já faz alguns anos que foi atestado que o ponto mais setentrional do país é o monte Caburaí e não o Oiapoque, como aprendíamos antigamente na escola. Só que até hoje muitos veículos de comunicação ainda se referem como sendo do “Oiapoque ao Chuí”, ignorando a mudança.

Precisamos mudar essa realidade. Não podemos viver à margem do país a vida toda. Temos que criar uma identidade, fazermo-nos respeitar mais, e não apenas sermos conhecidos como o estado das reservas, dos índios e dos conflitos pela posse da terra. Queremos ser conhecidos por RORAIMA (com letra maiúscula) e não confundidos com outros estados da nação, não desmerecendo, obviamente, nenhum deles.

 

LER É PRECISO

Dia desses, numa conversa informal com a jornalista Priscila Gonçalves, conversávamos sobre a falta de hábito da leitura entre os brasileiros. E ela me contava que, numa viagem ao Canadá, ficou impressionada quando pegou o metrô em Montreal e viu dezenas de pessoas com livros nas mãos, lendo, mesmo de pé,  enquanto iam para o trabalho ou para outro lugar qualquer. Jovens, velhos, pessoas de todas as idades, com livros nas mãos.

Em Buenos Aires, na vizinha Argentina, acontece a mesma coisa. Para se ter uma idéia de como somos atrasados no quesito livros/leitura, só na grande Buenos Aires existem mais livrarias do que no Brasil inteiro. Dados estatísticos mostram que, enquanto nos países mais adiantados, o cidadão lê em média nove (9) livros por ano, aqui no Brasil esse número cai para zero ponto oito (0.8), o que demonstra o quão pouco lemos. Por esses indicadores podemos ver um dos motivos do nosso atraso, de sermos considerados um país, embora emergente, ainda de terceiro mundo.

A diferença entre lá e cá é que aqui, quando se entra num transporte público ou mesmo numa sala de espera, em vez de encontrar pessoas com livros nas mãos, o máximo que se vê é um monte de gente mexendo no celular, no tablet, com fones nos ouvidos, etc… O que eu, particularmente, acho interessante é que hoje em dia as pessoas vivem falando no celular, mandando mensagens, torpedos, mas quando estão juntas, em vez de conversarem, trocarem idéias, é comum vê-las mexendo nas engenhocas eletrônicas. Canso de ver isso, três ou quatro pessoas juntas, cada qual fuçando no seu aparelho, se esquecendo de dialogar com quem está a seu lado. Será que esgotaram o assunto nas conversas pelo celular que, quando estão juntas, não tem mais o que conversar?

E se você indagar, principalmente entre os jovens e adolescentes, se alguém já leu um livro, somente uma pequena minoria vai te responder positivamente. Hoje em dia, em vez dos pais incentivarem os filhos pequenos a ler desde a mais tenra idade, preferem dar um vídeogame ou um celular de presente de aniversário ou em outras datas festivas. Crianças com quatro, cinco, seis anos, com celular na mão, pra cima e pra baixo. Eu pergunto: uma criança de quatro anos, que não sabe nem ler, precisa de um celular? Certamente que não.

Vejo, com alegria, o governo falando na mídia em lançar programas de leitura, de incentivo para que os alunos de escolas públicas adquiram o hábito da leitura, o que é muito bom, embora já chegue com anos de atraso. Num romance que lancei, a certa altura há um diálogo entre o personagem principal, um procurador do Ministério Público Federal e seu pai, onde este se diz muito orgulhoso do filho. Ao que o filho responde: – Eu é que me orgulho de você, porque se hoje sou o que sou, devo a educação que você e mamãe me deram e ao gosto pela leitura que adquiri com o senhor, que me ensinou que um homem não pode ser alguém na vida sem passar pelos livros.

Lembro-me que, quando ainda menino, o presente que mais gostava de ganhar no natal era um livro. Certo natal ganhei uma coleção de livros infanto-juvenis que, se não me engano, eram mais de dez volumes, que eu devorei em menos de um mês. Gibis então, nem se fala. Como eu não tinha condições de comprar, eu pegava emprestado de um amigo cujo pai era bem de vida e que lhe comprava muitos gibis. Lia e depois devolvia.

Naquele tempo os alunos eram obrigados a ler livros dos grandes autores brasileiros, tais como: Machado de Assis, José de Alencar, Monteiro Lobato, Raquel de Queiroz, Érico Veríssimo, etc… Hoje em dia parece que essa prática desapareceu das escolas, o que é uma pena.

O mundo moderno oferece tantas opções de lazer que a leitura de um bom livro se tornou uma coisa supérflua. Massifica-se tanto a coisa virtual através dos meios de comunicação que o objeto livro, real, palpável, que você pode levar pra onde quiser, ficou de escanteio, como se diz no linguajar popular. Ler no computador não é a mesma coisa que ler um livro feito de papel. Eu sei que a tendência é essa, livros através dos meios eletrônicos, mas nada se compara com o prazer de manusear, folhar, olhar, ler, e até sentir o cheiro de um bom livro novo.

Finalizando, deixo um recado aos pais. Esqueçam um pouco essas engenhocas eletrônicas e incentivem seus filhos a ler livros. Quem sabe, um dia, lá no futuro, eles irão te agradecer.

 

FALTA-NOS CIDADANIA

Segunda-feira pela manhã estava eu em uma fila, num órgão público, atrás de uma segunda via de um documento. Enquanto aguardava na fila, o que é comum em nosso país, observei um aviso na porta, tanto do lado de fora como do lado de dentro, que dizia em letras garrafais: “Por favor, ao passar feche a porta. Obrigado.” Apesar do aviso e até do agradecimento no final, diria que 80% das pessoas que  passavam, não fechavam a porta. E o ambiente tinha ar refrigerado, motivo pelo qual a porta deveria ficar fechada.

Através daquela atitude – o não fechamento da porta, apesar do aviso – fiquei pensando em como nós não conseguimos cumprir e obedecer certas regras e leis. E não é só no caso da porta, não. É em quase tudo. Vejamos no trânsito: as faixas de pedestres são feitas, como o nome já diz, para os pedestres atravessarem em segurança. Quantas pessoas já foram atropeladas em plena faixa de segurança? Várias, muitas, dezenas.

Os próprios pedestres muitas vezes pecam. Explico: já vi muito pedestre atravessando a faixa e olhando para o sentido contrário de onde vem o fluxo de carros, correndo assim grande perigo, pois nem todos param na faixa. Já vi, também, pedestres atravessando a faixa como se estivessem passeando, sem pressa nenhuma, o que é um desrespeito ao motorista. Já vi, pasmem, pedestres pararem no meio da faixa para atender celular e parar pra bater papo. Pode?

Quantos acidentes já aconteceram por falta de ligar a seta de alerta quando se vai dobrar à direita ou esquerda? É um gesto tão simples, fácil, e necessário para o motorista que vem atrás. Mas grande parte dos motoristas não o faz.

Na questão do lixo também podemos verificar o desrespeito. Muitas vezes a prefeitura passa recolhendo entulhos e galhadas e no outro dia já tem lixo novamente no mesmo lugar. Em outras ocasiões, principalmente em festas populares, não somos capazes de andar dez passos para jogar um lixo qualquer no local adequado. Preferimos jogá-lo no chão, ali mesmo onde estamos, por pura falta de bom senso ou por comodidade, emporcalhando dessa maneira o local.

Eu fico pensando como seria se vivêssemos em Singapura, onde, segundo uma reportagem que vi pela TV, um simples chiclete jogado ao chão resulta em uma multa de várias centenas de dólares. Trabalharíamos somente para pagar multas, com o feio costume que temos de jogar lixo em local público.

São muitos os setores da vida pública em que pecamos por não cumprirmos certas regras da boa convivência. Afinal, vivemos em uma sociedade e temos necessidade de cumprir certas regras, senão a coisa não anda. Se cada um quiser fazer do seu jeito, achando-se dono do mundo, a coisa não funciona. Temos muito que aprender para sermos um país digamos, “civilizado”. Se cada um não fizer a sua parte, não se esforçar para melhorar a sua cidade, a sua rua, o seu ambiente de trabalho, a sua casa, não sairemos nunca dessa sina que carregamos como um país de terceiro mundo. São essas pequenas atitudes como o simples fechar de uma porta, o ligar a seta, o desligar o celular em determinados ambientes, o não jogar lixo na rua, etc e etc, que vão nos tirar dessa posição incômoda. Na verdade o que nos falta é cidadania. A hora que aprendermos realmente o sentido da palavra “cidadania”, com mais respeito, coerência e bom senso, certamente estaremos caminhando para sermos um país melhor.

Cristel

Quando meu amigo Eugenio Thomé veio do Paraná para Roraima no começo da década de 80, comprou uma fazendinha nos arredores de Boa Vista, que possui até hoje. Naquele tempo a estrada que dava acesso à fazenda não era asfaltada e Boa Vista teria no máximo uns 60 mil habitantes, bem diferente dos dias atuais com seus mais de trezentos mil.  Energia elétrica na fazenda não existia, tudo era um novo começo, tudo era bastante difícil.

De lá pra cá se passaram trinta e tantos anos e hoje a fazendinha é conhecida como chácara do Thomé, local muito bem estruturado e aprazível, com plantações de manga, maracujá, pimentão, mamão, criação de peixes e onde são realizadas muitas festas, shows, confraternizações e outros eventos.

Mas a história que quero contar é lá do começo, mais precisamente em 82, logo depois que Thomé chegou por essas paragens roraimenses. Negócio fechado com o antigo proprietário, Thomé herdou junto com a fazenda um jipe Willys e alguns animais, entre eles, três cavalos. Tamborete, um cavalo troncudo, baixinho, manso, da raça poney-bretão; Apache, igualmente da raça poney-bretão; e um outro, grande e forte, alazão da raça campolina, chamado Príncipe.

Dos três, Príncipe andava meio jururu, tristonho, cabisbaixo, sem aquela imponência própria do seu porte e raça. Thomé e seus irmãos, Claúdio e Sidnei, ficaram preocupados com o estado do animal, mas não tinham lá essas experiências para lidar com doenças equinas. Um dia, conversando com o saudoso Dandãe, velho pecuarista muito conhecido no estado e letrado nas lidas do campo, Thomé lhe falou do estado em que se encontrava seu cavalo Príncipe e o velho fazendeiro na hora, só de ouvir o relato, diagnosticou que aquilo eram vermes que estavam deixando Príncipe daquele jeito. Diagnóstico feito era hora de botar em prática o remédio receitado por “seu Dandãe” pra curar a tristeza de Príncipe.

–Thomé, – lhe falou seu Dandãe, – tem que fazer um cristel no bicho.

–Cristel? Mas que diabo que é isso, seu Dandãe, – perguntou Thomé.

–Não se avexe não, meu filho, que vou lhe explicar, – respondeu seu Dandãe. Pegue um litro de água e ponha uma colher de creolina. Misture bem, chacoalhe bem, e ponha o cavalo de bunda pra cima, com as patas traseiras sobre um degrau e introduza o liquido no fiofó do bicho. Vai com jeito, porque ele pode estranhar. Depois que o líquido descer todinho, espere mais um pouco, segure o bicho na mesma posição e depois dê um susto no bicho. Você vai ver o resultado.

No dia seguinte, ingredientes na mão, lá foram Thomé e seus irmãos botar em prática a receita de seu Dandãe. Trouxeram Príncipe até a varanda da casa e com muito jeito conseguiram conduzir o bicho até a mesma e deixá-lo na posição adequada. Alisa daqui, passa a mão acolá pra acalmar o bicho, com jeitinho conseguiram introduzir o líquido no animal conforme a receita do seu Dandãe. Príncipe, com as orelhas em pé e olho arregalado, meio desconfiado, esperava inquieto. Depois de alguns minutos segurando Príncipe sempre naquela posição, digamos, comprometedora, deram-lhe um tapa na bunda e soltaram o bicho. Meu irmão, pensa numa coisa feia de se ver. Esse bicho saltava, corcoveava, dava chutes com as patas traseiras no ar, peidava, pulava, era um deus-nos-acuda. Thomé e seus irmãos tiveram que sair em disparada prá não levarem uma saraivada de merda pelas ventas. Era merda prá tudo que lado: na varanda, na parede, nas plantas, no terreiro, até sobre o telhado tinha merda. Depois de alguns minutos daquela estripulia toda, o bicho se acalmou. Ficou murchinho, murchinho.

Prá encurtar a história: levaram dois dias limpando a cagança do Príncipe, mas que o bicho ficou bom, ficou!